Materiais Educativos
Olá, cientistas cidadãos. Como vocês já sabem, em nosso projeto trabalhamos principalmente com a Ciência Cidadã, abordagem que apoia o ensino de ciências e está cada vez mais presente em nossa sociedade. Pensando nisso, nós do projeto Ecologia e Saúde desenvolvemos diversos materiais educativos que trabalham com essa temática. Aqui em nossa página encontrarão, entre esses materiais, dois planos de aula que foram desenvolvidos como material complementar e utilizados em um Workshop sobre o programa GLOBE, realizado pela Agência Espacial Brasileira. Esses planos utilizam o protocolo de Mosquitos do aplicativo Globe Observer para apoiar o ensino de arboviroses no ensino fundamental. Através desses protocolos, os alunos serão capazes de coletar dados sobre criadouros e habitats de mosquitos por meio do aplicativo GLOBE Observer, democratizando a ciência e, de quebra, ainda realizando o controle e prevenção dos mosquitos vetores de doenças nas escolas.
O programa GLOBE é financiado pela Nasa e gerenciado no Brasil pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
Ficou interessado e quer entender melhor como funciona? Confira abaixo:
PLANOS DE AULA
PROTOCOLO GLOBE MOSQUITO
Direitos autorais Agência Espacial Brasileira (AEB)
Introdução
O protocolo Globe Mosquito utilizando o aplicativo Globe Mosquito Habitat Mapper pode ser usado para apoiar o letramento científico de estudantes de Ensino Fundamental, atendendo aos compromissos estabelecidos para a Área de Ciências da Natureza da Base Nacional Comum Curricular (BNCC; Brasil, 2018).
Além de promover o aprendizado de ciências, a implementação de protocolos de Ciência Cidadã como o GLOBE Hidrologia do Mosquito na sala de aula favorece a compreensão dos processos, práticas e procedimentos de uma pesquisa científica, e apoia o exercício da cidadania. Utilizando os protocolos, os participantes, tanto alunos como professores, constroem coletivamente perguntas e metodologias de pesquisa que respondem a demandas locais, nas escolas, nos bairros, em suas casas. As respostas a essas perguntas levam ao questionamento e propostas de soluções, e fomentam a cooperação entre os participantes na proposição e desenvolvimento de ações para melhoria dos problemas evidenciados (Tabela I). A médio e longo prazo, essas ações têm o potencial de melhorar a qualidade de vida não apenas nos locais de intervenção, mas também em seus entornos (Brasil, 2018).
Tabela I. Aplicação do protocolo Globe Mosquito para o desenvolvimento das competências específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental da BNCC (Brasil, 2018).
Competências
2. Compreensão de conceitos, processos, práticas e procedimentos de investigação científica.
8. Exercício da cidadania
3. Realização de perguntas e proposição de soluções a problemas
1. Compreensão das Ciências da Natureza como empreendimento humano
Atividades
Troca de conhecimentos orais / Pesquisa bibliográfica
Formulação de perguntas e procedimentos de pesquisa de modo coletivo / Análise e apresentação de resultados
Formulação de perguntas e procedimentos de pesquisa de modo coletivo
Troca de conhecimentos orais / Pesquisa bibliográfica
Utilização do aplicativo Globe / Pesquisa bibliográfica / Análise e apresentação de resultados
Dinâmicas realizadas ao longo do processo / Aprendizados e aplicação dos resultados
5. Construção de argumentos com base em evidências e fontes confiáveis
Contextualização dos problemas de pesquisa / Pesquisa bibliográfica / Apresentação de resultados da pesquisa
7. Aprendizado sobre o cuidado próprio e respeito à diversidade
Dinâmicas realizadas para definição de problemas de pesquisa, análise e apresentação de resultados
4. Entendimento e contextualização dos desafios do mundo contemporâneo
6. Utilização de distintas linguagens, incluindo tecnologias digitais de informação
A seguir, preparamos dois planos de aulas para aproximar os alunos da Ciência Cidadã por meio da utilização do protocolo Globe Mosquito no aplicativo Globe Observer (MHM), atendendo a Objetos do Conhecimento e Habilidades da BNCC que devem ser desenvolvidas no Ensino Fundamental, do 6° ao 9° ano, inclusive.
Os dois planos de aula podem ser desenvolvidos em conjunto ou separadamente, e estão baseados na utilização do ciclo de indagações para facilitação da aprendizagem científica (Arango et al., 2009). O primeiro plano de aula, intitulado “A importância do descarte apropriado no combate a mosquitos vetores de doenças”, é introdutório ao estudo dos mosquitos, e visa aproximar o estudante dos procedimentos para a realização de uma pesquisa científica. Nele, partimos de perguntas mais simples sobre o descarte de materiais nas escolas, nos bairros, e suas implicações para a proliferação de mosquitos, para apoiar o processo coletivo do desenvolvimento de métodos de pesquisa e análise de resultados. O segundo protocolo, intitulado “Pesquisa utilizando armadilhas” utiliza a mesma abordagem, porém propõe o desenvolvimento de pesquisas para identificação de focos de proliferação de mosquitos, para corroborar premissas estabelecidas na proposta anterior, e provocar a construção de propostas para solução de problemas. A utilização de armadilhas contribuirá ainda para que os alunos possam observar, de modo seguro, o ciclo de vida completo de mosquitos vetores de doenças.
Ambos planos promovem o entendimento do ciclo completo de realização de uma pesquisa científica, desde a indagação e estabelecimento do contexto e problema de estudo, à análise e apresentação de resultados. A Tabela II a seguir mostra, de modo resumido, objetos de conhecimento e habilidades a serem desenvolvidas na área de Ciências, de acordo à BNCC, que podem ser trabalhadas utilizando os planos de aula desenvolvidos. Ainda que a proposta aqui apresentada se origine na área de Ciências, entendemos que é possível utilizar os planos de aula de modo transdisciplinar, apoiando a aquisição de habilidades em outras áreas temáticas, como Matemática, Português, Geografia e outras. Na área de Matemática, por exemplo, os resultados das pesquisas podem favorecer o entendimento de probabilidades e conceitos de estatística descritiva. Já em Português, pode ser trabalhada a interpretação de textos, pesquisa bibliográfica em fontes seguras e escrita científica (estabelecendo interdisciplinaridade com a área de Ciências), entre outros.
Tabela II - Ciências 6-9 ano
Preservação da biodiversidade
Vida e Evolução
6°ano
7°ano
8°ano
9°ano
Vida e Evolução
Célula como unidade de vida
Programas e indicadores de saúde pública
Sistema Sol, Terra e Clima
(EF06CI06) Concluir, com base na análise de ilustrações e/ou modelos (físicos ou digitais), que os organismos são um complexo arranjo de sistemas com diferentes níveis de organização.
(EF07CI08) Avaliar como os impactos provocados por catástrofes naturais ou mudanças nos componentes físicos, biológicos ou sociais de um ecossistema afetam suas populações, podendo ameaçar ou provocar a extinção de espécies, alteração de hábitos, migração etc.
(EF07CI09) Interpretar as condições de saúde da comunidade, cidade ou estado, com base na análise e comparação de indicadores de saúde (como taxa de mortalidade infantil, cobertura de saneamento básico e incidência de doenças de veiculação hídrica, atmosférica entre outras) e dos resultados de políticas públicas destinadas à saúde.
(EF07CI11) Analisar historicamente o uso da tecnologia, incluindo a digital, nas diferentes dimensões da vida humana, considerando indicadores ambientais e de qualidade de vida.
(EF08CI15) Identificar as principais variáveis envolvidas na previsão do tempo e simular situações nas quais elas possam ser medidas
(EF08CI16) Discutir iniciativas que contribuam para restabelecer o equilíbrio ambiental a partir da identificação de alterações climáticas regionais e globais provocadas pela intervenção humana.
(EF09CI12) Justificar a importância das unidades de conservação para a preservação da biodiversidade e do patrimônio nacional, considerando os diferentes tipos de unidades (parques, reservas e florestas nacionais), as populações humanas e as atividades a eles relacionados.
(EF09CI13) Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.
Unidade
temática
Anos
Objeto do conhecimento
Habilidades
Vida e Evolução
Vida e Evolução
O Ciclo de Indagações
O Ciclo de Indagações é uma ferramenta que faz parte da proposta didático-pedagógica intitulada “Ensino de Ecologia no Pátio da Escola”. Nos planos de aula a seguir, propomos a utilização dessa ferramenta, em conjunto com a utilização do Protocolo Globe Mosquito, para apoiar o ensino de ciências no Ensino Fundamental II.
A utilização da ferramenta em sala de aula possibilita a compreensão e prática da metodologia científica, de modo a fomentar o letramento científico (Feisinger, 2013). São três as fases do ciclo de indagações, que podem ser desenvolvidas de modos distintos:
1) Perguntas; 2) Ação; e 3) Reflexão.
Na fase 1) Perguntas, com o auxílio do professor, e estimulados por suas curiosidades, observações, conhecimentos indiretos e vivências, os alunos desenvolvem perguntas sobre um determinado evento, ou uma problemática. A fase 2) Ação corresponde à coleta e análise de dados para responder à pergunta proposta. Finalmente, é na fase 3) Reflexão, que os alunos analisam e discutem os resultados obtidos, e se propõem a pensar se seus resultados respondem à pergunta feita na fase 1. A partir dessa reflexão, surgem novas ideias de pesquisa, novas inquietações, e novos ciclos de indagações, que podem objetivar responder a pergunta anterior, ou uma nova pergunta que surgir a partir do experimento realizado.
Figura 1. Fases do Ciclo de indagações - Perguntar, Responder e Analisar.
Em uma escola, o ciclo de indagações é uma ferramenta útil para auxiliar o desenvolvimento de projetos em sala de aula, ou como atividade complementar, como um Clube de Ciências. Também é uma ferramenta que pode apoiar a aproximação escola-universidade na construção de respostas conjuntas a problemas da sociedade e troca de conhecimentos sobre o fazer científico, como é também preceito da Ciência Cidadã (Abel et al., 2017).
Do ponto de vista metodológico, a facilitação do ciclo de indagações por um professor ou monitor pode ser guiada a participativa, ou livre. Em uma intervenção guiada, o professor geralmente apresenta uma pergunta baseada em um contexto ou conhecimento prévio sobre uma temática, e os alunos desenvolvem metodologias de coleta e análise de dados. O professor atua como mediador do processo, auxiliando o grupo de estudantes quando necessário, estimulando seu interesse em responder à pergunta, analisar as respostas, e propor novas perguntas acerca da problemática estudada.
Em uma intervenção mais livre, seja ela parcialmente guiada ou originada inteiramente a partir de indagações dos alunos, o ciclo de indagações se completa com maior participação dos estudantes. Nesse tipo de intervenção, o professor ou monitor, ou os próprios estudantes, sugerem uma temática de estudo. São os alunos que elaboram as perguntas de estudo, métodos de coleta de dados, e análise de resultados. Aqui, os facilitadores, professores ou monitores, atuam como consultores, resolvendo as dúvidas pontuais que surgem, ou propondo abordagens e material para auxiliar no processo.
O GLOBE é um programa de ciência cidadã e educação que conecta uma rede de estudantes, professores e cientistas de todo o mundo para entender melhor, sustentar e melhorar o ambiente da Terra nas escalas local, regional e global. Possui como objetivo criar conjuntos de dados significativos, padronizados e com qualidade de pesquisa global, que podem ser usados para apoiar pesquisas científicas profissionais e de cientistas cidadãos.
Os dois planos de aula que propomos pretendem trabalhar os dois tipos de intervenção. No Plano de Aula 1, a partir de uma intervenção guiada, objetivamos fomentar, entre os estudantes, a compreensão da relação entre acúmulo de resíduos sólidos e proliferação de doenças transmitidas por mosquitos vetores, utilizando o protocolo Globe Mosquito e o aplicativo Globe Mosquito Habitat Mapper. Entendemos, a partir de nossas experiências, que o Plano de Aula 1 pode originar diversos ciclos de indagação, que poderão ser trabalhados utilizando o mesmo plano de aula, ou o Plano de Aula 2, em uma intervenção livre.
Referências:
ABEL, L.D.S., LÓPEZ, M.S., e SOUZA, S.A.C. Utilização do ciclo de indagação em um Clube de Ciências como proposta de integração entre o ensino público escolar e universitário no litoral norte de São Paulo. Rev. Cult. Ext. USP, São Paulo, v. 18, p. 69-80, nov. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9060.v18i0p69-80
Arango N., M. E. Chaves y P. Feinsinger (2009). Principios y Práctica de la Enseñanza de Ecología en el Patio de la Escuela. Instituto de Ecología y Biodiversidad - Fundación Senda Darwin, Santiago, Chile. 136 pp.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
FEINSINGER, P. Metodologías de investigación en ecología aplicada y básica: cual estoy siguiendo, y por qué?. Revista Chilena de História Natural. 86: 385-402. 2013.