Projetos fundamentados em Ciência Cidadã se baseiam na cooperação entre cientistas e não cientistas para a produção de conhecimento científico. Essa cooperação pode se dar em distintas fases do projeto, desde a elaboração do mesmo e definição do tema de estudo, até a análise dos resultados e divulgação.
A ciência cidadã é aplicável em diferentes campos científicos, graças ao seu potencial na geração de dados e na realização de análises em diferentes escalas. É importante destacar também seu caráter socioeducativo, uma vez que incentiva a participação da população nas produções científicas.
O interesse pela ciência tem crescido ultimamente. Esse aumento se deve principalmente ao fato de que novas tecnologias de informação e comunicação estão sendo desenvolvidas como aplicativos para celular, paginas web, georeferenciamento, etc. Tais ferramentas permitem a realização de projetos com a troca de dados científicos entre cientistas e não cientistas de todo o mundo.
Esses projetos colaborativos favorecem a democracia científica, pois influenciam a forma como as pessoas veem as diferentes situações do mundo, promovendo a educação e o letramento científico. A participação de não cientistas em uma pesquisa também influencia a estruturação de projetos e a definição de prioridades de pesquisa.
Porém, ainda existem controvérsias em relação a ciência cidadã, principalmente por seus métodos e pela qualidade de seus produtos. Diante disso, diversos projetos incorporaram validação de dados, o que contribui para uma maior credibilidade. Assim, muitos dos resultados obtidos por meio de projetos de ciência cidadã têm sido divulgados na literatura científica e utilizados como indicadores para tomar medidas contra diferentes problemas nacionais.
Um exemplo de utilização da ciência cidadã é o projeto Galaxy Zoo. Este projeto dá a qualquer pessoa com acesso a um computador, a oportunidade de participar na descrição de objetos astronômicos ainda não classificados, auxiliando os astrônomos em suas pesquisas sobre a evolução do Universo. Soares (2011) menciona que os dados gerados pelas colaborações dos usuários foram surpreendentes, uma vez que muitas descobertas surgiram a partir de avaliações feitas por voluntários.
Outro projeto é o "Smart Citizen", que foi desenvolvido em Barcelona. Este projeto atua como uma plataforma de participação do cidadão no controle da qualidade do ar de uma cidade, permitindo o compartilhamento dos dados coletados. Além de fornecer ferramentas acessíveis a população, utiliza um kit de captura de dados sobre as concentrações de monóxido de carbono e outros poluentes para serem colocados em varandas, terraços e janelas.
Outras iniciativas de ciência cidadã são o eBird e o Wikiaves (projeto brasileiro). Estes projetos revolucionaram a forma como as informações sobre pássaros são relatadas e acessadas. Ambos os projetos fornecem dados com informações sobre a abundância de aves e sua distribuição.
O "Disco Secchi", por sua vez, é um projeto que com a participação de marinheiros e pescadores, que monitora a biomassa fitoplanctônica para estudar sua possível redução. Este estudo é realizado através da verificação da turbidez da água por meio de um disco de Secchi, um instrumento para a transparência de corpos d'água. Os dados obtidos são enviados via aplicativo móvel para um banco de dados do projeto.
No Brasil, a campanha internacional "Abelha ou não?", nascida da preocupação com o desaparecimento das abelhas, mapeia de forma colaborativa a ocorrência desses insetos. O projeto quer alertar sobre a importância das abelhas para o ecossistema e principalmente sobre seu papel na polinização de várias plantas, e auxiliam na produção de informações e permitem pressionar os órgãos responsáveis por uma maior regulamentação do uso de agrotóxicos.
Também dentro das iniciativas baseadas em plataformas virtuais para coleta de dados, está o programa GLOBE. Desenvolvido pela NASA, e apoiado no Brasil pela Agência Espacial Brasileira (AEB), busca conectar diferentes pessoas, entre alunos, professores e cientistas de todo o mundo, usando a ciência e a educação como meio, tendo como objetivo aperfeiçoar a compreensão do meio ambiente e do planeta Terra. Este programa vem criando dados significativos que podem ser usados em pesquisas científicas.
É importante lembrar que os protocolos de coletas de dados e demais materiais desenvolvidos por nossa equipe têm a plataforma GLOBE como base.
No Paraná temos os projetos "Ecologia e Saúde: ciência cidadã para monitoramento da dengue", "Conhecendo os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus de vários vírus" e "Revista Científica na escola", que visam aprimorar o ensino de ciência através da implementação de soluções inovadoras, utilizando métodos educacionais que contribuam para a aprendizagem em escolas de ensino básico, instituições de ensino superior, espaços de ciência e outras instituições de ciência, tecnologia e inovação. Tudo isso elaborado por um grupo multidisciplinar, através do desenvolvimento de protocolos de pesquisa e coleta de dados em relação ao mosquito Aedes aegypti, que podem ser utilizados por professores e alunos. Os projetos buscam estratégias conjuntas de prevenção de doenças que permitam a identificação precoce de casos para evitar problemas maiores.
Referências
MOURA, Ricardo Silva. Contribuição da ciência cidadã para a conservação da avifauna tocantinense. 2020. 96f. Dissertação (Mestrado Biodiversidade, Ecologia e Conservação) – Universidade Federal do Tocantins, Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade, Ecologia e Conservação, Porto Nacional, 2020. Disponpivel em:<http://repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/2015/1/Ricardo%20Silva%20Moura%20-%20Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em 05 de jan. de 2021.
PALMA, Diego Araújo da. Monitoramento de qualidade da água com o enfoque ciência cidadã: estudo de caso em Brazlândia/DF. 2016. 91 f. il. Monografia (Bacharelado em Engenharia Ambiental) — Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: <https://bdm.unb.br/handle/10483/16961>. Acesso em 06 de jan. de 2021.
ROCHA, Luana M. P. Os cientistas e a ciência cidadã: um estudo exploratório sobre a visão dos pesquisadores profissionais na experiência brasileira. 2019. 76f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação) - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: <http://ridi.ibict.br/handle/123456789/1053>. Acesso em: 03 de jan. de 2021.
SOARES, M. D.; SANTOS, R. D. C. Ciência Cidadã. O envolvimento popular em atividades científicas. Revista Ciência Hoje; Vol. 47; p. 38-43. 2011. Disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/revistach/2011/281/pdf_aberto/cienciacidada281.pdf. Acesso em: 06 de jan. de 2021.